segunda-feira, 17 de junho de 2013

P1: Folha 1

Na janela do 7º andar observei a imensidão do mundo. Parei por um instante eterno, olhando as cores que se faziam presentes, mesmo afogadas numa névoa quieta, sorrateira. 
Me sentí mais no mundo, mais que nos outros dias da semana quando nem mais abro a janela e só me arrumo para o trabalho. Uniforme, cabeça baixa, caixa de Skinner. 

Em um final de semana tudo pode mudar. Saí do meu apartamento naquele dia e iniciei minha primeira corrida contra o sedentarismo visual. Coloquei meu fone de ouvido com as músicas mais estimulantes, alegres e que me tocavam em determinado momento. Estava pronto para me concentrar apenas em imagens.

Abrí a porta, parei por um instante e pensei: "hoje é um novo dia, vou fazer diferente". Não peguei mais o elevador. Liguei o som e descí o primeiro lance de escadas em ritmo acelerado. Ofegante. 
Lá fora, cumprimentei as primeiras pessoas que passavam por mim. Estranhas ao meu gesto, retribuíam retraídas, sem entender o porquê daquilo. Por que cumprimentar se nem as conheço, não é mesmo?

A persona humanizada começou a borbulhar numa energia que subia da base do meu corpo querendo percorrer todo meu ser. 
Iniciei minha corrida leve, parei 8 quadras mais tarde. O corpo não é mais o mesmo de 30 anos atrás. 
Continuei o restante do trajeto caminhando, agora sentindo todos os detalhes. Placas estranhas a mim, fachadas de prédios nunca observadas, natureza descartada no mar de prédios... aquele mundo dentro do mundo. Parecia estar lendo um livro pela 4ª vez onde a cada capítulo percebia novos detalhes da história.

Voltei, alucinado com as possibilidades que alí se encontravam, com as imagens gravadas na mente. Por que nunca vi nada disso?

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