terça-feira, 1 de setembro de 2015

Tempos de guerra

Foi como tirar férias em plena terça feira. Aquele velho jargão de que "pareceu uma eternidade num único momento", em uma única noite. Uma dança de corpos, de sensações. A dança de nossos corpos.

Acordei com olhos embaçados, mas não meu coração. Tudo estava claro como a luz que alí adentrava.
Estávamos numa pousada, num chalé aconchegante. Senti-me dono dalí, como se fosse o homem da casa. Já era crescido. Não precisava mais acorda-la pra perguntar o que queria no café da manhã. Preparei e, enquanto o fazia, recebo um abraço sonolento pela cintura. Virei, olhei em seus olhos semi-abertos, segurei seu rosto e dei-lhe um selinho. Um beijo que pareceu o mais gostoso de todos que havia experimentado. E era.
Era o beijo de liberdade. O beijo que simbolizou nossa primeira noite juntos.

Tínhamos que partir. Trabalharíamos no período da tarde.
Arrumamos as coisas e partimos.

A cada quilômetro percorrido meu rosto se virava pro seu, numa admiração inexplicável e (in)voluntária. Não conseguia parar de olha-la. "Quero-te de novo", pensava. Ela, me questionava: "O que houve?". Eu não falava, só sorria.

Tempos de guerra. Tempos de buscar a paz.
A minha... já encontrei.

domingo, 30 de agosto de 2015

Seu show

Ela, cantora tímida.

Eu alí, sentado na mesa mais próxima. Observando tamanha beleza com uma taça de vinho na mão. É um espetáculo aos olhos de quem vê. Não é minha. Não há posse. Há admiração por sua habilidade vocal. É livre para aplausos e todo o resto que a ela se destina.

Aqueles olhos... aqueles olhos...

Cabelos escuros, curtos. Delicada.

O vinho está no fim. Suas canções parecem deslizar no ar. Quero que elas terminem. Quero sua voz junto ao meu ouvido, deslizando em sussurros...
Quero sua liberdade sendo minha. Quero que a minha seja sua. Quero sua boca.

Ela canta em tons suaves como sua roupa. Tudo parece suave.
Sentada num banco sob a luz do holofote, bebe seu tinto suave em doses que marcam levemente seus lábios.
Impossível não observar cada contorno de seu rosto, de sua boca, de seu nariz... quase como se estivesse tocando-a. Sentindo sua pele, vendo seus olhos se fechando e querendo repousar em minha mão. Abre-se um sorriso de conforto.

Nossos olhos se encontram a cada gole. Uma garrafa se foi. Olhares eternos e consumidores de desejo. Desejo de encontro de nossos corpos. Teu olhar, tudo o que preciso. Vem ser minha, deixa eu ser seu.

O espetáculo acabou. O espetáculo não acabou. Só está começando...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Metáforas de um gladiador

Jogado entre corpos putrefatos, um sopro de ar o faz renascer. Abre os olhos, como se nunca tivesse enxergado, com dificuldade. Suas mãos e braços buscam energia para erguer a armadura pesada que carrega junto a seu corpo. Erguendo-se na guerra em princípio findada, olha no horizonte e percebe-se único. Todos iguais. Ele... único, só.
Estático, pensante, levanta sua espada apontando-a ao infinito, como se a guerra não houvesse acabado. 
Caminha a passos lentos, mancando, deixando o tempo curá-lo das feridas. Vai ficando mais forte, aprendendo com a batalha que quase o derrotou. Um gladiador nato não deixaria sua vida esvair-se desse modo.
As proteções de sua carne se refazem. Não é mais armadura, é aço que faz parte de seu corpo. Mais voraz, mais determinado, alimenta-se do próprio desejo de novas conquistas. Consome-se em ciclo de libido auto-alimentando seu sistema. Independente e liberto voltará a integrar um exército, um novo exército, mas manterá suas glórias, focado.

"Si vis pacem, para bellum."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Esvaziar-se.

E sob o sol escaldante de um verão rígido, ele aproveita as férias em sua piscina. Mergulha em pensamentos e descobre a nobre arte de meditar. Redescobre o quão importante é encontrar-se consigo mesmo e esquecer por alguns segundos eternos o mundo que o cerca. Anula sons, gostos e cheiros debaixo d'água e enfim, esvazia-se. Deixa cada pedaço do Tetris encaixar-se nos seus respectivos lugares.
É questão de tempo até que o sistema esteja completo, delineado, e objetivado.

 Ter seu tempo é necessário. Ainda que viva a doce ilusão de serem dois em apenas um, medite. Entre no constante conflito de teses acerca de si. 

Buscou palavras no sistema. Bloqueou algumas, deletou outras e, por fim, digitou novas palavras dando-as destaque em caixa alta. É assim que surge um objetivo. Em caixa alta. Mentalize, queira, escreva.
O planejamento vem em seguida. O "passo a passo" ganha vida e mostra a trilha a ser seguida.

Novos planos, novas metas, novos objetivos...

Em princípio, é hora de esvaziar-se.


sábado, 10 de janeiro de 2015

Segue

FAÇO DE MIM AÇO MOLDÁVEL
LÂMINA QUE QUEIMA
CORAÇÃO FUNCIONAL
 
 
 
É difícil reaprender. Aquela abertura deixou misturas.
 
Seguimos em terceira pessoa. Segue em terceira pessoa.
Agora é ele (eu), de novo. Suspenso no mundo por fios de aço, progride em sua caminhada ao "desconhecido" por meio de degraus únicos e singulares que o movem numa travessia onde se têm apenas duas placas. Coloca uma à sua frente, recolhe a de trás e assim por diante. Como num jogo/brincadeira. Determina seu objetivo, calcula seus passos, é refém das diversas estratégias. É obrigado.
Conquista, domina, progride. Seu objetivo não é mais aquele que quase o eliminou. Agora ele desafia, olha fundo nos olhos quando de necessidade e aplica suaves golpes de razão.
 
Como óleo virgem que limpa um sistema sujo, escorre por todo o caminho e encontra-se reformado pelas lembranças de um Eu passado.
É atual, é aço moldável, sua lâmina queima, seu coração é estruturalmente funcional. 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Palhaço

Desde então muita coisa mudou. Sou policial. Conseguí. Muito esforço, grande trajeto. Muitas conquistas capitais, muitas conquistas pessoais, algumas falsas conquistas.

A verdade é que... voltei. Infelizmente. Sou eu... o da dor de cabeça. Reprazer.

É narcísico, é frio, lógico, racional, resistente, inteligente, criativo dentro do mundo fútil que o cerca, é objetivo, gosta de brincar... com a vida. Tem pulsão de morte, adrenalina em picos, movido pela raiva, descarta outros sentimentos.
Tem reações ao próprio sistema em razão deste descarte, é claro... mas assim o equilíbrio, o padrão, a necessidade de um sistema não-falho acaba por se criar. A zona de conforto... melhor opção.

Medo? Não... o medo aparece na ausência do conhecimento do que não se havia percebido. Eu percebí. Atravessei o abismo. Atravessei para cair direto na boca da serpente. Agora levanto. "Volto às minhas coisas mesmas".

Linhas retas, e não curvas.

A verdade você descobre no seu dia a dia, descobre que ela é cruel. Mas continua em frente nesse palco da vida... atuando. Abram-se as cortinas, o palhaço chegou.